A
Polícia Federal indiciou nesta sexta-feira (04), o ministro do Turismo, Marcelo
Álvaro Antônio, por criar um sistema para desviar dinheiro público por meio de
indicações fraudulentas de mulheres nas eleições legislativas do ano passado.
Como consequência, o Ministério Público Estadual de Minas Gerais apresentou
denúncia contra o ministro. Além de Antônio, foram indiciados pela PF e
denunciados pelo MP-MG outros dez membros do Partido Social Liberal (PSL), do
presidente Jair Bolsonaro. Suspeita-se que o titular da pasta do Turismo tenha
recrutado quatro mulheres que se apresentaram como candidatas, de modo que o
partido obteve 279.000 reais do fundo eleitoral, mas elas não fizeram campanha
e, juntas, só conquistaram pouco mais de 2.000 votos. São as chamadas
‘candidaturas-laranja’.
Bolsonaro
informou ao jornal Folha de S. Paulo, que revelou o caso, que vai aguardar a
polícia concluir a investigação para decidir sobre o futuro de seu ministro.
Ambos se reuniram nesta quinta-feira à tarde sem que fosse divulgado o que
discutiram. Antônio é um dos dois membros do partido do presidente nomeados
ministros. O outro foi demitido há alguns meses. A PF acusa Antônio de
falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de fundos eleitorais e
associação criminosa, crimes que resultam em penas de, respectivamente, cinco,
seis e três anos de prisão.
Este
caso emergiu de um dos mistérios da política brasileira: como, apesar dos
estímulos legais, a proporção de mulheres parlamentares é tão baixa. Isto
porque, embora a lei exija que 30% das candidaturas partidárias sejam de
mulheres e as incentive com recursos públicos, o número de parlamentares
eleitas é muito inferior. Nesta legislatura, as mulheres representam apenas
15%, uma cifra pequena em comparação com praticamente qualquer outro país, mas
um recorde histórico no Brasil.
Outro
ministro de Bolsonaro também teve problemas recentes com a Justiça. O
Ministério Público requereu nos tribunais que o ministro da Cidadania, Osmar
Terra, restaure os financiamentos ao cinema suspensos em agosto porque, em sua
avaliação, a decisão da agência oficial de cinema, a Ancine, foi tomada com o
objetivo de discriminar quatro filmes de temática LGTB+. Terra se encarrega dos
assuntos da Cultura porque Bolsonaro eliminou a pasta em seu Governo.
A
denúncia contra o titular do Turismo pelas ‘candidaturas-laranja’ inclui
testemunhos de algumas das mulheres supostamente usadas, como Zuleide Oliveira,
que declarou que o ministro Antônio, presidente do PSL em Minas Gerais, a
induziu a participar das eleições de um ano atrás pela sigla por meio de um acordo:
entregaria ao partido o dinheiro público que lhe corresponderia como candidata.
Oliveira
sustenta que o ministro participou diretamente das negociações, embora soubesse
perfeitamente que ela não possuía experiência política de nenhum tipo. Como
todos os envolvidos esperavam, Oliveira não foi eleita para a Câmara dos
Deputados. A Polícia Federal afirma que parte desse dinheiro para promover
candidatas foi desviada para empresas de assessores e ex-assessoras
parlamentares do ministro.
(Fonte: El País)
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