Lira Nordestina é a histórica tipografia que transformou a cidade de Juazeiro do Norte em um dos principais centros da literatura de cordel em todo o País. Da editora, criada em 1936, saíram ilustrações que enfeitam galerias de arte e inúmeras capas de cordéis, os folhetos de poesia nordestina que são reconhecidos como patrimônio cultural brasileiro pelo IPHAN. 

Atualmente, trabalham na gráfica cerca de vinte xilógrafos, eles detêm a arte centenária do entalhe em madeira para criar gravuras e carimbá-las em papel. Para continuar a viver deste ofício, eles formaram a Associação dos Xilógrafos e Artesãos do Cariri e criaram produtos para tornar a xilogravura acessível ao público. 

Enquanto esperam a reabertura da gráfica, hoje aos cuidados da Universidade Regional do Cariri (URCA), os artesãos atendem os clientes pelas redes sociais. Incluídos na Campanha Compre do Ceará, a editora ganha destaque como uma empresa local, que merece a preferência dos consumidores. 

José Lourenço, xilógrafo, está há mais de trinta anos na Lira Nordestina e chegou a trabalhar com as filhas do fundador, o alagoano José Bernardo da Silva. 84 anos atrás, quando foi a Tipografia São Francisco entrou em atividade, seu objetivo era popularizar a arte e atender ao público que vinha para as romarias de Juazeiro do Norte, assim como aos comerciantes da região, imprimindo os cordéis, santinhos e orações para as novenas. 

Em 1982, a Lira foi comprada pelo Governo do Estado e, seis anos depois, incorporada à URCA. Lourenço conta que a gráfica passou a ter uma importante função acadêmica e educativa, mas com a perda de convênios, os xilógrafos passaram a ter dificuldades de continuar. Além disso, como a produção das gravuras era feita sob encomenda, tornava-se cara para o consumidor comum. 

“A xilogravura partia do cordel e ia para quadros de galerias de arte, coisas que não eram acessíveis para o povão. Vendo isso, comecei a adaptar e introduzir produtos mais acessíveis ao público”, explica ele. 

Ele lembra que, com as capacitações do Sebrae, surgiram ideia de novos produtos. 

“Dez anos atrás tive a ideia de fazer uns azulejos, cerâmica com xilogravura. A gente começou a abrir a mente para novas ideias de novos produtos, foi aí que a gente começou a sobreviver com a arte da xilogravura. De repente a gente estava fazendo jogo americano, caminho de mesa, tudo introduzindo a xilo: chinelos, quadros, camisas, produtos na linha do artesanato”, lembra ele. 

Os produtos foram bem aceitos pelos clientes e tinham boas vendas nas feiras de artesanato e na própria sede, quando a Lira recebia a visita de estudantes e pesquisadores. Contudo, desde o início do isolamento social, a gráfica foi fechada e os eventos suspensos. 

Atualmente o Instagram é o canal por onde as pessoas podem conhecer e adquirir produtos originais da Lira Nordestina. José Lourenço vai aos poucos ganhando familiaridade com as redes sociais, em julho participou de lives do projeto Sesc Cordel Online, no Tudo em Casa Fecomércio. Em seu perfil @jose.lourenco.xilo, os interessados podem conversar com o artesão e fazer encomendas. “A gente teve que se adaptar, já era necessário e agora é a única forma que a gente tem para trabalhar e não deixar morrer a arte da xilogravura”, afirma ele. 

No futuro, um museu 
Um dos projetos que a Lira Nordestina espera concretizar tão logo seja reaberta é a criação de um Museu do Cordel, onde serão expostas obras raras como as capas originais de cordéis de 1950 que compradas pelo próprio José Bernardo, além do maquinário original e móveis antigos. “Acredito que o museu vai ser um dos projetos mais importantes da história do cordel no Brasil", anuncia.

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