FOTO: Antonio Rodrigues

No dia 4 de dezembro de 1938, o Crato inaugurava sua usina hidrelétrica, iniciativa incomum para a época em que as principais cidades utilizavam geradores à vapor, óleo diesel ou gasolina.

Com as águas do rio Batateira, pela primeira vez produziu energia elétrica no Cariri — a usina de Paulo Afonso só seria entregue em 1955, e a distribuição da Chesf no Cariri só aconteceria em 1961.

Após quase 84 anos, o mesmo local que foi um marco no desenvolvimento da cidade está em estado de abandono. No prédio da antiga casa de força, parte do maquinário da época ainda resiste em meio à vegetação.

Há quatro anos, a Secretaria de Cultura de Crato apresentava um projeto piloto para a comunidade que vive no entorno da antiga usina, onde também foi erguido na década de 1980 o Balneário da Nascente, espaço público de lazer no sopé da Chapada do Araripe.

Neste projeto, eram previstas as permanências dos bares e restaurantes, que seriam reformados, a construção de um anfiteatro, um delicatesse e a restauração da antiga casa de força. Porém, de lá para cá, nada foi feito. A proposta, orçada em aproximadamente R$2 milhões, segundo o atual titular da Secretaria de Cultura de Crato, Amadeu de Freitas, se tratava de um projeto de emenda parlamentar que destinaria o recurso para a reforma e urbanização deste equipamento.

No entanto, não avançou. “Neste momento, infelizmente, o projeto de revitalização não é prioritário (dentro da pasta), porque temos ainda a reforma do Museu Histórico do Crato, do teatro e do Centro Cultural do Araripe, que estão para ser executados, na parte de reforma e edificações”, admite o secretário.

A deterioração do Balneário da Nascente e da antiga usina hidrelétrica são evidentes. O mato invade as edificações e obstrui o local onde antes corria água. As piscinas também evidenciam a deterioração. O garçom Paulo César Oliveira enxerga que isso causou uma queda nos visitantes. “Falta estrutura, segurança. Há mais de 30 anos que frequento e hoje está abandonado.”

RELEVÂNCIA CULTURAL
O historiador Roberto Júnior lamenta pela importância que aquele espaço teve para o Cariri. “Foi o primeiro exemplo da utilização dos recursos hídricos para a geração de energia, onde se utilizava matrizes mais poluentes, como diesel e gasolina”. Além disso, o próprio Balneário representou um marco na opção de lazer gratuito e acessível aos cratenses. “Diferente de outros clubes que cobram entrada, anuidade ou título de sócio. É lamentável que se encontre assim”, reforça.

Na sua avaliação, o prédio da antiga casa de força tem potencial para se tornar um museu da energia com restauração do maquinário que não necessariamente pudesse voltar a funcionar, mas mantivesse esteticamente original e conservado. “Aí montaria uma expografia sobre a hidrelétrica e o próprio complexo como um todo”, imagina Roberto Júnior.

De acordo com Amadeu de Freitas, essa ideia é compartilhada com a Secretaria de Cultura, mas ainda não foi posta no papel. “Seria acompanhada da reurbanização e recuperação das áreas de banho, além da criação do museu da casa de força. Mas ainda são ideias. Não é um projeto”, explica o gestor.

Um tombamento do local junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi elencado em 2018, mas também não avançou. "É difícil. Acompanho isso desde o início e temos que conversar com a comunidade."

Fonte: Jornal Opinião CE

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